Salve-se quem puder
Estamos correndo atrás do tempo, atrás de certificações, títulos e novas formas de qualificações. Exercemos diversos papéis e a maioria deles não pode ser aprendida através da sala de aula formal, nossos diplomas e maneiras eloquentes de falar. Se nos prendemos ao saber recebido apenas por um meio, faltam algumas partes.
A reflexão de hoje foi conduzida pelo ator e educador Caio Merseguel:
"Ouvi dizer uma vez que só a arte e o esporte salvam uma sociedade. Achei que isso fosse uma auto-super-valorização do ofício daquele que falava, mas pensando bem sobre isso, passei a entender e concordar com tal fala. Mas salvar uma sociedade de que? De quem? Passei um tempo procurando entender isso também. Achei que quem salvava era o bombeiro (do incêndio), a polícia (do ladrão), o médico (da doença), o Super Homem (do vilão), a Mulher Maravilha (das mazelas do mundo)... E a arte e o esporte? Salvam de quem? De quê?
Salvo algumas exceções, o verbo salvar pode significar também conservar, guardar, poupar, defender, preservar. Diante disso a ficha cai. A arte e o esporte, assim como o bombeiro, a polícia, o médico, o Super Homem e a Mulher Maravilha, têm a função de conservar, guardar, poupar, defender e preservar uma sociedade que acumula valores, culturas, afetos, dores e amores. Todos aqueles que salvam um coração da dor de bater sem esperança são agentes da salvação. Salvemos o mundo! E isso é muito possível. Basta conservar a cabeça erguida, guardar aqueles nossos valores incontestáveis, poupar as nossas feras, defender a nossa paz interior e preservar a vida.
A visão se amplia, as possibilidades também, e entendo que o atleta que compete e quer ganhar (a despeito da derrota de alguém) desenvolveu tanto respeito, honra e valor a esta vitória (e à derrota alheia) que o seu senso de equipe e a sua percepção ao outro se tornam fundamentais e inabaláveis. Querer a própria vitória no esporte, poupa (salva) o atleta de ser um jogador da vida real que só pensa em ganhar na vida. Ganhar o quê? Ganhar de quem? A vida não é para ser ganhada, é para ser vivida e, como todo bom atleta sabe, ela não se vive sozinha.
Já a arte, lapida e pole a alma daqueles que a "consomem", e principalmente daqueles que a fazem. A arte obriga o artista a se conhecer, a entender e aceitar o outro, a preservar (salvar) as diferenças e não se conformar com as indiferenças. Por isso temos tantas almas inquietas soltas pelo mundo que entendem, aceitam e querem mudar aquilo que está fora de lugar, que dói e violenta a um ou a todos. A arte sensibiliza e ajuda a tornar possível a empatia, pois personagens brotam em todas as artes, e o personagem é preciso ser defendido (salvo) pelo artista para que a sua verdade seja levada ao palco e a uma discussão edificante e transformadora. Viver outros personagens não faz do artista um fingidor da vida real, que se ilude com a ideia de poupar (salvar) o mundo. O artista acredita que a vida é para ser vivida e, como todo bom artista sabe, ela não se vive sozinha.
Por isso entendo e concordo com a ideia de que só o esporte e a arte salvam, pois se o bombeiro, a polícia, o médico, o Super Homem e a Mulher Maravilha não tiverem um pouco de atleta e de artista, o mundo vai mal, pois diploma e títulos não guardam (não salvam) a vida de ninguém, que dirá o mundo.
A vida não se vive sozinha."
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