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Wayra Brasil

Medicina se transforma digitalmente em tempo recorde

“Agora estamos vendo algumas das chagas tanto do sistema de saúde como da própria prática médica e de outras profissões de saúde. Utilizar a tecnologia para lidar com essas feridas é um caminho sem volta”, diz Douglas Crispim

Contatar médicos à distância não é novidade. Desde que o telefone se tornou uma ferramenta popular, é comum que pacientes liguem para seus médicos em busca de diretrizes e até algum diagnóstico. Conhecida na medicina como teleconsulta, a consulta à distância foi tratada como algo ocasional e pontual a ser utilizado em casos de urgência. Isso, é claro, até que uma pandemia acometesse o país.

Desde meados de março, quando o surto do novo coronavírus passou a afetar também o Brasil, o setor da saúde precisou rever seus procedimentos, priorizando o atendimento à distância. De uma hora para a outra, conselhos médicos regionais e federais atualizaram suas políticas e autorizaram, ainda que em caráter extraordinário, as teleconsultas por videoconferências, realizadas por meio da internet.

Teleconsulta na prática

Para Haissan Molaib, CEO da bem.care, healthtech que é parte do portfólio da Wayra Brasil, o que a pandemia da COVID-19 fez foi apenas acelerar a tomada de decisões acerca da transformação digital na área médica. Segundo o executivo, a autorização das teleconsultas já vinha sendo discutida há anos. Com a pandemia, as entidades médicas se viram pressionadas a estabelecer regras de atuação e diretrizes éticas para a realização das consultas à distância, de forma a manter o distanciamento social. A urgência foi tamanha que até o Ministério da Saúde se envolveu na situação: uma portaria publicada pelo ministério no Diário Oficial da União permitiu, excepcional e temporariamente, a realização de teleconsultas em todo o Brasil. A determinação abarca tanto o âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto a saúde suplementar e privada, o que significa que convênios de saúde de todo o país também foram levados a oferecer consultas remotas.

Segundo Douglas Crispim, médico-assistente do núcleo de cuidados paliativos do Hospital da Clínicas da USP, fato é que a pandemia impôs uma série de novas regras de isolamento de pacientes e familiares em diversos níveis. “A regulamentação do uso de aplicativos de chamadas virtuais facilitou bastante e deu respaldo para o trabalho dos médicos”, observa. Além do isolamento domiciliar de pacientes que não estão com COVID-19, as teleconsultas estão sendo essenciais também para monitorar pacientes adoecidos com sintomas mais leves, transmissão de boletins médicos, realização de reuniões de família, visitas virtuais a pacientes e até para a comunicação de óbitos.

“Todos precisaram correr. A diferença é que alguns estavam mais bem preparados que os outros”, analisa Molaib, que felizmente se percebeu entre os que estavam melhor equipados para enfrentar o desafio. Especializada na oferta de serviços de saúde e bem-estar por meio de uma plataforma digital mediante uma assinatura acessível, a bem.care já tinha entre suas ofertas consultas com psicólogos e nutricionistas por teleatendimentos, conforme as autorizações dos conselhos de cada profissão. Agora, a expectativa do empreendedor é que os desafios de atender à distância trazidos pela COVID-19 intensifiquem o desenvolvimento digital do setor de saúde. Antes da pandemia, dados dos EUA já indicavam um aumento de 340% no uso de serviços de telemedicina por médicos norte-americanos. Na época, as previsões estimavam que serviços de telemedicina poderiam representar um mercado global de 66 bilhões de dólares até 2021, número que deve ser ainda maior, considerando a necessidade atual de realizar consultas à distância.

Resistência ética, persistência médica

Pode parecer receio com a tecnologia, mas a resistência dos médicos com as teleconsultas está também relacionada com o cumprimento do Código de Ética Médica, que veda a prescrição de “tratamentos ou outros procedimentos sem exame direto do paciente”, salvo em casos de urgência ou emergência.

Esse tema já é debatido na comunidade médica há anos, em busca de uma maior flexibilidade na restrição prevista pelo código de ética. Como muitas das interações entre médicos e pacientes já estavam acontecendo não só por telefone, mas também por e-mail e apps de mensagens, há cerca de três anos o Conselho Federal de Medicina (CFM) permitiu o uso do WhatsApp para envio de dados ou consultas, desde que mantidas a privacidade e a confidencialidade das informações. Mais tarde, em 2018, o mesmo conselho determinou os termos e limites da telemedicina no Brasil, definida como a prática da medicina por meio de tecnologias de comunicação, além de descrever as formas ideais para a realização das teleconsultas.

Felizmente, essas discussões já estavam em curso antes do Brasil chegar a 2020, quando as consultas remotas se tornaram uma das transformações digitais na medicina de mais rápida implementação. Com as teleconsultas autorizadas, pacientes puderam continuar recebendo atendimento sem que eles ou os profissionais de saúde precisassem se expor à um vírus ainda desconhecido, sem cura e altamente contagioso. Mais do que atender casos suspeitos sem arriscar o contágio, as teleconsultas mantiveram o atendimento de casos corriqueiros e o monitoramento de pacientes que já estavam em tratamento. Tudo sem que ninguém se deslocasse ou saísse de casa, conforme recomendado pelas autoridades sanitárias.

Consultas remotas também salvam vidas

É claro que uma teleconsulta não é a mesma coisa que uma consulta presencial. Além da impossibilidade de executar um exame clínico físico, especialidades como a otorrinolaringologia, por exemplo, sentem falta do uso de equipamentos próprios para o devido diagnóstico. A possibilidade de interagir olho no olho com o paciente também impacta a qualidade do atendimento, mas consideradas as devidas proporções, existem muitos casos em que uma consulta remota pode realmente ajudar a salvar vidas.

Nesse momento, é mais comum que a maioria das pessoas pense no benefício do distanciamento social ou do atendimento que pode ser feito à áreas mais remotas do país, mas Molaib ressalta que essas não são as únicas situações onde uma teleconsulta pode ser o grande diferencial. “É nossa função, como healthtech, mostrar as vantagens que os processos de telemedicina podem oferecer e que não são possíveis de outra forma”, ressalta o CEO da bem.care.

Além das teleconsultas, que são realizadas remotamente, existem também outros tipos de teleatendimentos na área da saúde. São casos como o telemonitoramento, que permite acompanhar um paciente e garantir que ele está cumprindo o tratamento; as teletriagens, em que um médico de atenção primária atende e encaminha o paciente para um especialista; a teleinterconsulta, feita entre profissionais da medicina para troca de informações sobre casos específicos; o teleatendimento psicológico, que é regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia desde 2012; e até a telerradiologia, ramo da medicina diagnóstica que gera laudos digitais para exames de imagem.

Apesar da aparente simplicidade da implementação, as teleconsultas não se limitam à execução de videochamadas entre paciente e médico. Segundo o médico oncologista brasileiro Otávio Clark, que hoje atua nos EUA, existe uma série de questões que precisam ser resolvidas para a devida prática da telemedicina no Brasil, que vão desde a prescrição de medicamentos até o recebimento pelas consultas. “Não posso simplesmente prescrever por e-mail, seria preciso uma autenticação digital. Além disso, é preciso cuidar do arquivamento do prontuário, por exemplo”, provoca.

Alguns desses pontos de fricção na adoção das consultas remotas já conseguem ser resolvidos por plataformas dedicadas, como o caso da bem.care, por exemplo. “Em um cenário ideal, a teleconsulta acontece por meio de uma plataforma que permita armazenar um prontuário online, realizar o agendamento das consultas, mediar a videocomunicação de forma segura e manter a privacidade do paciente”, descreve Molaib, destacando também o cuidado com a cobrança e o registro de pagamento das consultas, bem como o manejo de toda a documentação envolvida com o atendimento médico, como o envio de prescrições de medicamentos, atestados e pedidos de exames. “É realmente um conjunto de ferramentas”, frisa.

Além de oferecer uma série de benefícios para os assinantes da sua plataforma e para os clientes das plataformas personalizadas que mantém (como é o caso do app Vivo Bem, criado pela operadora para seus clientes), a bem.care também possui essa plataforma completa para a realização dos teleatendimentos. Por isso, desde o início da pandemia, a startup se mobilizou para disponibilizar ao público teleconsultas de atendimento psicológico de forma gratuita. Mais recentemente, a startup criou também uma oferta específica para empresas, em um formato B2B, fornecendo teleconsultas de atendimento médico para os colaboradores das companhias que se cadastrassem na plataforma da bem.care. “É um atendimento médico que não tira os colaboradores do distanciamento social. É feito remotamente, mas de forma humanizada: os pacientes são atendidos por médicos de verdade”, reforça Molaib, ressaltando que o formato não é uma teletriagem automatizada, mas uma conversa com um doutor ou uma doutora do outro lado da tela.

Medicina cada vez mais inovadora

Se antes mesmo da pandemia os hospitais e clínicas médicas eram apontados por relatórios de tendência como um celeiro da inovação exponencial, o futuro da medicina tende a ser cada vez mais tecnológico. “A transformação digital é inevitável. Se tivéssemos discutido e digitalizado a medicina antes, estaríamos bem mais maduros para lidar com os desafios do novo coronavírus”, opina Clark.

Para além das teleconsultas, outros ramos da medicina poderão ser transformados nos próximos anos. Dentro do próprio portfólio da Wayra, temos visto o avanço da telerradiologia com a ProRadis, que consegue trazer mais eficiência e velocidade aos diagnósticos, que são feitos de forma remota, a Pluginbot que está com robôs de telepresença para triagem e visitas de pacientes e a Carenet que integra todos os equipamentos hospitalares para gestão remota e centralização dos dados do paciente em prontuário eletrônico.

“A desburocratização de serviços, o ganho de escala, a maior eficiência nas análises de diagnósticos, além das vantagens da Inteligência Artificial em descobertas de patologias mais precisas e de maneira antecipada comparado a um humano são benefícios imensuráveis”, explica Eduardo Alvarez, CEO e um dos fundadores da ProRadis. Segundo o executivo, como já existiam legislações anteriores autorizando a telerradiologia, o seu avanço deverá ser mais velos do que se possa imaginar.

A atual crise de saúde causada pela COVID-19, segundo Crispim, apenas escancara um desafio que o setor já enfrenta há anos. “Agora estamos vendo algumas das chagas tanto do sistema de saúde como da própria prática médica e de outras profissões de saúde. Utilizar a tecnologia para lidar com essas feridas é um caminho sem volta”, acredita.

O futuro

Com o impulsionamento das inovações tecnológicas no setor da saúde, as big techs também devem entrar no jogo, o que pode fazer com que em breve passemos a lidar com a aplicação de diagnósticos feitos com base em inteligência artificial, o telemonitoramento de condições de saúde por meio de sensores de vestir entre outras novidades.

Mais do que um local para se tratar e se curar, os hospitais tenderão a se transformar, no futuro, em centros de inovação tecnológica para o bem-estar.

“A verdade é que estamos presenciando uma revolução que acabou de começar”, sintetiza Molaib.

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